Acordes

Baquiones
2 min readApr 11, 2020

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É muito difícil entender e definir nossas relações. Como saber o quanto elas nos afetam? Como entender do quê gostamos e desgostamos? Até que ponto devemos nos esforçar? E qual o momento de desistir?

Uma analogia interessante é a música. Ela dificilmente é racionalizada para a maior parte das pessoas. Mesmo que os especialistas consigam dizer que tais acordes são mais felizes e outros mais tristes, o contexto pode variar muito e a impressão das pessoas também. O mesmo vale para as relações. O que sentimos do vínculo com alguém é muito abstrato, complicado definir de maneira muito prática.

Assim como a música, nossas relações vão sendo sentidas aos poucos, até os ouvidos se acostumarem ou reconhecerem aquela sensação de antes. Talvez aquela pessoa goste de samba e o que começou a ouvir no primeiro encontro já deu aquela vontade de se levantar e entrar na roda. Ou, na verdade, depois do que ouviu, pensou que devia ter ficado em casa.

Isso não vale só pra pessoas, nos relacionamos com lugares também, com atividades. Definir a sensação de ir a um museu ou a uma cidade conhecida é quase como tentar definir pessoas, tem coisas demais envolvidas. O que sentimos é uma junção de acordes felizes e infelizes, tédio e satisfação.

Com as músicas, depois que ouvimos muito, deixamos de lado até querermos ouvir de novo. Mas com as pessoas não costuma ser tão simples. Com o tempo vamos conhecendo a sutileza de cada nota, entendendo de onde veio a inspiração para o ritmo e acompanhando como a letra nem sempre faz sentido. E não é muito fácil parar uma música enquanto se ouve, é quase como mandar os músicos saírem do palco de repente. Eles até podem sair, mas tem todo o tempo até desmontarem tudo e acalmarmos a plateia.

Mesmo os grandes clássicos são revistos de temos em tempos. Algumas músicas são abandonadas por décadas ou nunca mais ouvidas. Outras novas são criadas e nos tocam na primeira audição. As relações são assim também, as vezes pedem renovação, outras conclusão. Entender o que vem no momento certo é uma arte.

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